A pandemia de covid-19 evidenciou como é decisivo o investimento dos hospitais na prevenção de infeções associadas a cuidados de saúde (IACS). Para a Luz Saúde – que até agora registou apenas cerca de uma centena de profissionais no grupo infetados com covid-19 – esta sempre foi uma área prioritária, o que serve de mote a este podcast Hospital da Luz, com o médico Carlos Palos e a enfermeira Ana Soraia Bispo. Os intervenientes neste podcast são precisamente dois dos especialistas que trabalham diariamente na definição e adoção de políticas nesta área: Carlos Palos , especialista em Medicina Interna e Medicina Intensiva, é responsável pela comissão de controlo de infeção da Luz Saúde, e a enfermeira Ana Soraia Bispo pertence ao grupo de controlo de infeção do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures. A inevitabilidade de epidemias e pandemias, as ‘superbactérias’ resistentes a antibióticos, por que o dinheiro gasto na preparação antecipada das estruturas de saúde para prevenir infeções é um investimento que salva vidas e poupa despesa futura, como se organizaram as unidades da Luz Saúde para prevenir IACS e a covid-19 – são algumas das questões abordadas nesta conversa. Podcast Hospital da Luz é o título de uma série de podcasts em que os profissionais deste grupo discutem os temas mais atuais nas suas áreas. Estão disponíveis nas plataformas de streaming e áudio (Spotify, Itunes, Google Podcast, etc.) e também no Youtube. Carlos Palos: ‘A mortalidade causada por IACS é superior à da COVID-19’ “Em termos de gestão de sistemas de saúde, de uma forma global, está em causa a sua sustentabilidade. As IACS constituem uma sobrecarga para a capacidade hospitalar.” “Uma boa parte das IACS é causada por bactérias multirresistentes aos antibióticos. Por cada novo antibiótico, as bactérias vão conseguir sempre desenvolver resistências. Segundo projeções internacionais, até 2050, se não fizermos nada – nomeadamente, na otimização da prescrição de antibióticos pelos médicos –, morrerão 10 milhões de pessoas devido a IACS” “Estamos hoje muito preocupados com a covid-19, mas a verdade é que o número de mortes causado por IACS, e em particular as causadas por bactérias multirresistentes, é muito superior à mortalidade desta pandemia” “O investimento que tem de ser feito passa pela formação dos profissionais e por dar condições para que em cada unidade existam os recursos humanos, técnicos e financeiros para a prevenção de IACS. Este investimento é de elevado retorno e o tema tem de ser abordado com objetividade e honestidade pelos órgãos decisores nacionais” “Somos o pior país da Europa (juntamente com a Grécia), com taxas de infeção que rondam os 8% – ou seja, por cada 100 doentes nos hospitais portugueses, oito desenvolvem uma IAC –, quando a média europeia é metade e há países com taxas de 2%." “Ao longo dos últimos anos, fizemos formação dos nossos profissionais e colocámos na linha da frente, nas urgências, informação para os doentes. Criámos salas de contingência e toda a estrutura da urgência foi preparada para que, desde a triagem até ao atendimento médico, haja condições de segurança.” “Perante a covid-19, houve um trabalho hercúleo no sentido de fazer chegar aos doentes informação que lhes desse confiança, senão deixam a suas doenças evoluir de forma irreversível. Em relação aos colaboradores, criámos mecanismos para eles saberem como podíamos ajudá-los, a par de condições para diminuir sempre que possível a ausência do trabalho, mas garantindo sempre a sua segurança.” “Neste momento, temos menos de 100 pessoas infetadas com covid-19 no grupo, que tem 15 mil colaboradores. E a maioria foi infetada fora do hospital." Ana Soraia Bispo: ‘É preciso medir o impacto da prevenção’ “Fazemos um grande investimento na medição do impacto da prevenção – e fornecemos esses números periodicamente aos profissionais e às administrações. Por exemplo, no Hospital Beatriz Ângelo, a taxa de infeção associada à algaliação reduziu para metade” “Na Holanda, há muito que as equipas de controlo de infeção integram especialistas em estatística que, por cada medida de investimento proposta à administração, quantificam o respetivo retorno, ou seja, quanto é que isso vai permitir recuperar daí a um ano, a dois, a três e por aí fora” “Podemos ter o melhor cirurgião do mundo, a executar uma operação complexa durante 24 horas, e uma equipa de enfermagem também de excelência. Se depois não investirmos num auxiliar com formação adequada e o doente não se deitar numa cama limpa e não tiver uma casa de banho completamente desinfetada, o investimento feito nos outros dois grupos de profissionais vai por água abaixo se ele apanhar uma bactéria multirresistente.” “Costumo explicar que, se se fizer mal a limpeza após uma alta, é como se estivéssemos a colocar o doente anterior a abraçar o doente a seguir. Ninguém quer isto, pois não?” Os países mais desenvolvidos têm de ter consciência disto: com a globalização, qualquer hospital em qualquer parte do mundo pode ser confrontado amanhã com uma infeção de elevadíssimo grau de contagiosidade.” Ouça sobre este tema o Podcast Hospital da Luz: As infeções associadas aos cuidados de saúde e a COVID-19 Google | iTunes | Spotify