Ter o grupo chinês Fosun como acionista da Luz Saúde “foi uma enorme vantagem” para tomar medidas e preparar os seus hospitais em Portugal para a situação de pandemia de covid-19, salienta Isabel Vaz, em entrevista ao semanário Expresso. A CEO da Luz Saúde revela que esteve na China em janeiro de 2020 e que a informação sobre o risco da covid-19 foi muito clara: “Um dos grandes ensinamentos que os meus colegas chineses me passaram foi o de que era indiferente se nós íamos ter ou não a obrigação de tratar a covid-19 porque, quando o vírus estivesse na população, as nossas unidades tinham que estar preparadas ao nível da separação de circuitos para os casos suspeitos. Disseram-nos: ‘Montem um hospital dentro do hospital’ e foi o que fizemos no Hospital da Luz, em Lisboa. A grande ajuda que os colegas chineses me deram foi terem-me assustado a sério”. “Sempre nos repetiram para não baixarmos a guarda. A experiência deles também fez com que atempadamente fizéssemos o reforço não só de equipamentos de proteção, mas também dos medicamentos necessários para tratar a covid-19”, acrescenta Isabel Vaz . Mas este tipo de crises, afirma, também serve para se ver o que é preciso melhorar e onde é necessário investimento: “Eu própria tenho feito esse exercício de aprendizagem, para identificar onde tive sorte. Porque esta não será a única pandemia que vamos enfrentar e não sei, até, se a atual não terá uma segunda vaga até aparecer uma vacina”. Isabel Vaz afirma que, em comparação, os serviços públicos de saúde, no que diz respeito em particular aos especialistas de medicina intensiva e ao número de camas de cuidados intensivos em Portugal, não estavam devidamente preparados para a situação de epidemia. E explica, por outro lado, como os hospitais privados começaram por ser chamados numa primeira fase pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) para cooperarem no tratamento de doentes com covid-19, o que acabou por não se concretizar, por opção do Governo. “O povo português tem sido exemplar no cumprimento das indicações da Direção-geral de Saúde e do estado de emergência e, felizmente, nas três últimas semanas, não se confirmaram os receios de falta de capacidade do SNS. Terá havido motivos para o Governo achar que já não iria ser necessário articular com os privados como tinha sido pensado”, afirma. “Com a economia, também salvamos a saúde” Ao longo da entrevista, a CEO da Luz Saúde adianta ainda que o grupo registou uma quebra de 70% a 80% na sua atividade, com a declaração de estado de emergência e o respetivo confinamento das pessoas: “Optámos por desmarcar atos não urgentes porque quisemos acautelar capacidade para tratar infetados, bem como a disponibilidade de equipamentos de proteção individual”. Foi feita também uma reorganização da rede de unidades, para manter os cuidados em segurança aos doentes crónicos ou com patologias mais complexas, como o cancro: “Reforçámos a proteção dos clientes que estão com terapêuticas imunomoduladoras, como os doentes oncológicos, e passámos, em apenas dois dias, o nosso centro de oncologia do Hospital da Luz Lisboa para a unidade de Oeiras”. Paralelamente, porém, há indicadores positivos – como, por exemplo, o recorde mensal de nascimentos registado em março na maternidade do Hospital da Luz Lisboa, as cerca de três mil videoconsultas por mês (em 40 especialidades, através de 50 consultórios virtuais espalhados pela rede nacional Hospital da Luz), a disponibilização de consultas médicas telefónicas e de uma linha telefónica de enfermagem disponível 24 horas. “A pandemia teve este aspeto positivo de aceleração digital”, refere. A CEO da Luz Saúde alerta que, neste momento, a saúde e a economia têm de ser geridas em conjunto: “Por consequência da covid-19, estamos também num momento de emergência económica e temos uma outra emergência sanitária relacionada com a carga de doença que, pelo facto de não ser tratada, vai aumentar. É com base nestas três variáveis que o futuro dos países afetados está a ser jogado. E não podemos esquecer que com a economia também salvamos a saúde. Não se pode dissociar uma coisa da outra. Não é primeiro a saúde e depois a economia, as coisas estão entrelaçadas”. Entrevista de Isabel Vaz ao Expresso