O lema de Pedro e Miguel Ferreira Pinto é que, “na vida, não há limites, mas sim barreiras, e todos podem fazer o que quiserem”, até participar na IronMan, a prova desportiva mais exigente do mundo, quando se tem paralisia cerebral, como é o caso do primeiro. A sua história, de união entre irmãos e de superação, é narrada na primeira pessoa num documentário da RTP transmitido a 8 de fevereiro, em que se mostra também como criaram o projeto Iron Brothers, a favor da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) , que reúne atualmente o apoio de muitas pessoas e instituições, entre as quais o Hospital da Luz. “Fomos crescendo, sempre os dois juntos, sempre vestidos de igual, onde ia um também ia o outro, e nunca me apercebi que o meu irmão tivesse grande diferença. Quer dizer, apercebia-me, mas não era uma coisa que na minha cabeça eu pensasse ‘ele é diferente’. E sempre fomos muito amigos, muito unidos, sempre nos protegemos um ao outro”, conta Miguel, de 33 anos. O projeto Iron Brothers nasceu há cerca de dois anos, quando ele e Pedro, de 31 anos e portador de paralisia cerebral, ouviram falar das provas de triatlo da competição IronMan : 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,2 km de corrida. Pedro percebeu que a participação com o irmão nas provas de preparação para a competição era uma oportunidade para lançar um movimento nacional : chamar a atenção para a falta de condições das pessoas com paralisia cerebral e apoiar a APCL, angariando donativos para esta conseguir comprar equipamentos como carrinhas de transporte, cadeiras e gruas de higiene para famílias carenciadas suas associadas. “O meu irmão tinha um projeto que era ajudar a sua escola, a APCL, que é a sua segunda casa. Os olhos dele brilharam quando percebeu que podia ser ele a pedir para ajudar e não os pais. Foi a oportunidade perfeita”, recorda Miguel, que já era praticante de Crossfit, tendo acabado por aceitar o desafio. Para fazerem as provas, Miguel tem de transportar Pedro: reboca-o numa canoa na prova de natação, numa bicicleta adaptada na prova de ciclismo e depois, na corrida, numa cadeira de rodas especial. No projeto Iron Brothers, empresas e particulares foram chamadas a contribuir com valores simbólicos para Pedro e Miguel poderem ter os equipamentos necessários e para angariar fundos para a APCL. Por cada quilómetro que percorressem na preparação para a IronMan de 2019, por exemplo, cada pessoa doaria um euro. Em 2019, as consultas e exames médicos desportivos antes da IronMan 70.3 Cascais (em que as distâncias das provas são metade das do IronMan) foram feitos no Hospital da Luz Lisboa , que também ajudou na compra de uma bicicleta adaptada para Pedro poder ser transportado por Miguel. “Com boas condições, todas as pessoas como o Pedro conseguem comunicar, coisas simples como ‘quero ir à casa de banho’, ‘quero comer’, ‘quero fazer fisioterapia’. Ó que é preciso é criar condições para isso. Queremos chamar a atenção que todas as pessoas como o Pedro deviam poder ter aquilo que ele tem porque a sua família tem possibilidades para isso”, explica Miguel. O movimento cresceu e arrasta hoje um número significativo de pessoas , inclusive famílias com pessoas portadoras de paralisia cerebral, que seguem as suas pisadas, participando também em provas. “Tornámo-nos pessoas muito melhores porque o meu irmão existe na nossa vida. Se ele não tem existido, não tínhamos tanta noção do que é gostar de alguém com aquela abnegação. Ele tinha tudo para dizer ‘eu não sou feliz, eu tenho uma deficiência e não consigo fazer exatamente o que os outros fazem’. Mas ele mostra que ser feliz é fazer coisas simples, como juntares a tua família todos os fins de semana e todos os fins de semana terem um programa diferente. É uma bênção na nossa vida. Acho que as pessoas não percebem muito bem sem viver isto”, conta Pedro. Iron Brothers – Irmandade de Ferro